Se há em mim todo um desejo de criar uma ligação - de preferencia para a vida - uma serie de questões se levantam. Não sei se devido ao cansaço ou pensamentos provenientes de um interior sequioso de tanta coisa, dei por mim a pensar e uma vez mais a partilhar receios e desejos.
Há uns meses atrás, num banal dia de compras no dia da mulher, acabei à conversa com a extremamente simpática e profissional Senhora que me atendeu. Não me recordo a idade mas estava uns anos acima da minha, não creio que o suficiente para poder ser minha mãe. As conversas são como as cerejas e de um vestido chegamos às coisas da vida e de uma relação. Alguns desabafos - acontece-me com frequência quando vou às compras, não sei ao certo o motivo, mas simplesmente acontece. Falo, oiço e acabámos mesmo por comentar algumas inconfidências femininas. E assim foi. Fiquei a saber que a Senhora tinha uma relação, mas que gostava de a ter em casas separadas. E falou das vantagens e desvantagens!
Na altura pensei que fazia sentido o discurso. Outra idade, outras vivências e falta de disponibilidade para a função de dona de casa no sentido de ter a obrigação de lavar cuecas e passar a ferro. Compreendi o ponto de vista e discordei porque penso em constituir família, repartir tarefas e ter “o” pai a acompanhar tudo.
E foi ao pensar voltar à loja que recapitulei tudo e fiquei a pensar nos prós e contras de morar juntos e partilhar um mesmo espaço. Nunca vivi junta. Só mesmo em férias e fins-de-semana! O que torna tudo muito cor-de-rosa. Não chegámos ao ponto de saturação nem tão pouco de arrependimento.
E o meu lado dramático despertou.
É fundamental haver respeito de parte a parte. Sim, claro. É muito bonito na teoria. Mas por exemplo, não vai haver a altura de reflexão a sós após uma discussão, porque afinal a partilha passa por ai e é um espaço comum. Ou um fica na cozinha até passar a neura e o outro na sala? É que só sei lidar com a parte em que cada um vai para a sua casa e falamos umas horas mais tarde ou vemos-nos no dia seguinte. Não nos vamos chatear porque ele quer ver a bola, mas se for do clube do outro lado da segunda circular e só vir o respetivo canal, já me vai incomodar e então como resolvemos? Duas televisões? Sorteamos? É à semana? Só vemos as series em comum? Deixar a tampa da sanita aberta não me incomoda, mas deixar a cozinha desarrumada já não vou achar piada. Há um plano para minimizar estas catástrofes familiares antes que aconteçam sem recorrer a produtos químicos? - por acaso há e manhã digo-vos qual! “Ah e tal adoro fazer-lhe o pequeno-almoço” sim, claro. Mas se morarem juntos, ele/ela vão fazer todos os dias o pequeno-almoço? - Se sim, digam que eu quero muito saber o segredo. Como é que falo com a minha melhor amiga, sem que ele oiça? Duplicam os jantares semanais?
O segredo está no pacote “tudo incluído” do amor? Que inclui: paciência, cedência, ajustes de parte a parte? É que me soa tão a cliché que só posso ser uma insensível.
Se bem que, acordar em “conchinha" todos os dias vale tudo… Ou isso também muda!?!