Cento e vinte horas antes...
Estávamos com aquela sensação de que o Verão ia acabar e que não tínhamos tido aquelas férias, e efectivamente não tínhamos. Um fim-de-semana aqui, outro por ali, e talvez um último sem data certa. A sobrecarga de trabalho não permite mais, e verdade seja dita, não há outra forma de pagar contas, senão trabalhando, portanto, abençoada fase.
No entanto, estávamos com um amargo de Verão, e resolvemos sonhar.
Digo eu, ao meu mais-que-perfeito companheiro de viagem [o meu irmão]: Bom, bom era irmos à China!
E ele responde: Era só perfeito!
E a ideia, começou a tomar forma.
Alinhamos calendários e economias, que analisando bem, é uma viagem dispendiosa. Começamos a ver todas as possibilidades, tivemos de contornar bastantes obstáculos, mas sabe tão bem quando passa de uma possibilidade a uma realidade.
Noventa e seis horas antes...
Acordamos cedinho, - pensámos nós! - para ir ao aeroporto para renovar passaportes, [para quem não sabe, se forem atendidos até às 11h, com sobretaxa, claro, conseguem emitir no próprio dia, senão no dia seguinte e assim sucessivamente] mas esquecemos-nos de um pormenor, especialmente nós, portugueses, deixamos tudo para a última, e éramos nós, e mais setenta pessoas à nossa frente, o que significa que tivemos de adiar o próximo passo, os vistos, para o dia seguinte, o que nos deixava sempre apreensivos, até porque corríamos contra o tempo, e tínhamos somente aquele intervalo de datas estipulado como possível, nem mais nem menos. Ao mínimo imprevisto, e tínhamos de cancelar a viagem. Impacientes, mas esperançosos.
Setenta e duas horas antes...
Alinhava o relógio nas 16h, quando inquietos fomos levantar os nossos tão desejados boletins de viagem imaculados e a gritarem por carimbos! Festejamos discretamente e seguimos viagem até aos vistos.
Adorei a forma eficaz e competente de como nos trataram dos vistos, como deve de ser e sem complicações, sem garantias, prometeram tentar no dia seguinte, e como o que tem de ser tem muita força, estava tudo resolvido a quarenta e oito horas da data prevista da partida. Só aqui, pudemos oficializar a viagem. Tudo a postos, os nossos desejos tornavam-se uma realidade.
Vinte e quatro horas antes...
Escusado será dizer que tínhamos de deixar tudo organizado para que a nossa semana no continente asiático fosse pacifica, trabalhamos juntos, e era uma dupla ausência na empresa, e estas horas que antecederam foram uma correria, uma canseira e claro, um êxtase total.
Chegava a hora de arrumar malas, trocar euros por libras e por yian´s, e uma serie de outros detalhes, que deveriam de ter sido tratados com maior antecedência, mas que, pela incerteza até à ultima hora, achamos por bem, ser cautelosos.
Chegamos as 5h14 ao aeroporto de Lisboa...e tudo começou.
Check in ´s , porque levamos mala de porão, mesmo que pequenas, existindo escalas longas achámos mais pratico e andávamos só de mochilas com o essencial.
Viajamos pela British Airways, que fez justiça à tão conhecida pontualidade britanica, com voos impecáveis e sem nada apontar, pouco passavam das 10h quando chegamos a Heathrow, Londes, onde nos esperava uma escala de 6h, que independentemente do entusiasmo com que se viaje, parecem anos.
16h15 embarcávamos para Pequim... Aterramos às 09h57m (hora local)
A nossa aventura em território chinês, começou logo à saída do aeroporto mais bonito que já estive.
Estávamos cansados, optámos por ir de táxi, o meio mais prático e cómodo, depois de tantas horas passadas desde a saída de casa, e assim seria, se não houvesse uma barreira maior que a sétima maravilha que eles detém, a língua.
Para os nativos do país, é impossível comunicar com qualquer turista, senão na língua mãe. E sejamos realistas, não a mais fácil de aprender num manual durante a viagem, e anda assim, eu tive meses de aulas, mas devo de ter faltado aquela onde simplesmente se aprendeu a dizer: Hotel!
Posto isto, o senhor do táxi, perante a minha brochura do hotel, passou-se, começou a barafustar e bater na parte de cima do carro, não percebíamos se estava chateado ou ofendido e sem que tivéssemos conseguido perceber, aparece a policia que fala pelo intercomunicador não sei com quem também num tom de poucos amigos.
Ainda só tínhamos colocado dois pezinhos no território e já tínhamos inimigos.
Apreensivos, mas não sei se era do cansaço, só nos apetecia rir, porque era surreal, aparece uma rapariga que olhou para o minha cábula, dá umas indicações ao senhor raivoso, eu diria uma frase, olha para nós e diz: não se preocupem, já está tudo resolvido. Agradecemos e seguimos viagem.
Com quarenta graus na rua e outros tantos dentro, com o condutor mais estranho de sempre que batia ferozmente no volante a cada cinco minutos, - devia de estar atrasado para ir para algum lado não sabemos - e nós embora parecesse que estávamos num filme do Jackie Chan, resolvemos desfrutar.
Chegamos ao hotel, sãos e salvos.
Subimos até ao décimo sexto andar do edifício, num quarto que surpreendeu bastante, pela positiva com uma vista igualmente surpreendente.
Amanhã, conto-vos como vivemos a cidade que foi tão nossa naquela semana, e ainda, como fui famosa, o que foi provavelmente a maior aventura de toda a estadia.