Quando acabamos uma relação - tenha a denominação que tiver - há sempre uma série de pensamentos - normalmente péssimos que nos corroem como acido - que ficam por dizer. Que na hora nos esquecemos. Que diríamos horas depois, quando o turbilhão de emoções acalmasse. Respostas que nos arrependemos. Ofensas irrefletidas. E outras tantas pensadas. Palavras letais, que perfuram afiadamente cada órgão vital, acabando por matar o que restava.
E infelizmente, esquecemos-nos de dar ênfase ao que houve de memorável.
Chegava sempre mais tarde do que a hora combinada, os dias andavam complicados. Entre a azafama das reuniões e das constantes viagens entre empregos, finalmente o dia acabava - contigo. E era tudo o que pensava ao longo de cada obstáculo.
Normalmente, esperavas por mim em tua casa. Nossa de vez em quando. O tempo suficiente para sermos o casal perfeito. Dentro daquele espaço, que sendo teu - nosso - nos completávamos. Gostava da tua casa, longe de tudo. Esquecia os problemas, o trabalho, as responsabilidades e as complicações - a vida real. Como se fosse um sonho - é a sensação que tenho.
Gostava da cumplicidade que nos unia. O que me fizeste redescobrir! - uma lufada de ar fresco.
Ao pé de ti era eu na minha plenitude. Tinhas a habilidade de trazer à tona o melhor de mim. Serenavas-me a alma e davas-me a paz de espirito guardada - escondida. Abstraia-me do mundo. Deixava lá fora - do outro lado da porta - as coisas menos boas. E talvez isso não tenha sido uma boa opção.
Não era amor. Mas foi uma paixão arrebatadora.
Sentia as pernas bambas ao subir a escada, e adorava a forma como me abrias a porta. O sorriso esboçado com ar de encantamento, o beijo e o abraço - compensava qualquer arrelia.
Uma nostalgia súbita se apodera de mim quando penso na forma como me beijavas - era sentido. A inevitável pulsação acelerada, a respiração ofegante e o que me segredavas ao ouvido... O beijo inesperado no escuro. A segurança e o conforto que me davas quando acordava a meio da noite e sentia o calor da tua mão bem no fundo das costas.
Foi bom, tão bom enquanto durou.
Em fase da bonança, com as três letrinhas no fundo escuro bem interiorizadas, continua a ser bom relembrar - como um Amor de Verão. Faço-o com um sorriso. Não sinto saudades, mas recordo com o merecido respeito. Obrigada pelo que tivemos. Espero que me recordes da mesma maneira. Quando acordares do nosso sonho, não te esqueças, acabou. Sê feliz.