quinta-feira, 6 de novembro de 2014

As palavras que não te disse...

Quando acabamos uma relação - tenha a denominação que tiver - há sempre uma série de pensamentos - normalmente péssimos que nos corroem como acido - que ficam por dizer. Que na hora nos esquecemos. Que diríamos horas depois, quando o turbilhão de emoções acalmasse. Respostas que nos arrependemos. Ofensas irrefletidas. E outras tantas pensadas. Palavras letais, que perfuram afiadamente cada órgão vital, acabando por matar o que restava.

E infelizmente, esquecemos-nos de dar ênfase ao que houve de memorável.

Chegava sempre mais tarde do que a hora combinada, os dias andavam complicados. Entre a azafama das reuniões e das constantes viagens entre empregos, finalmente o dia acabava - contigo. E era tudo o que pensava ao longo de cada obstáculo.

Normalmente, esperavas por mim em tua casa. Nossa de vez em quando. O tempo suficiente para sermos o casal perfeito. Dentro daquele espaço, que sendo teu - nosso - nos completávamos. Gostava da tua casa, longe de tudo. Esquecia os problemas, o trabalho, as responsabilidades e as complicações - a vida real. Como se fosse um sonho - é a sensação que tenho.

Gostava da cumplicidade que nos unia. O que me fizeste redescobrir! - uma lufada de ar fresco.

Ao pé de ti era eu na minha plenitude. Tinhas a habilidade de trazer à tona o melhor de mim. Serenavas-me a alma e davas-me a paz de espirito guardada - escondida. Abstraia-me do mundo. Deixava lá fora - do outro lado da porta - as coisas menos boas. E talvez isso não tenha sido uma boa opção.

Não era amor. Mas foi uma paixão arrebatadora.

Sentia as pernas bambas ao subir a escada, e adorava a forma como me abrias a porta. O sorriso esboçado com ar de encantamento, o beijo e o abraço - compensava qualquer arrelia.

Uma nostalgia súbita se apodera de mim quando penso na forma como me beijavas - era sentido. A inevitável pulsação acelerada, a respiração ofegante e o que me segredavas ao ouvido... O beijo inesperado no escuro. A segurança e o conforto que me davas quando acordava a meio da noite e sentia o calor da tua mão bem no fundo das costas. 

Foi bom, tão bom enquanto durou.

Em fase da bonança, com as três letrinhas no fundo escuro bem interiorizadas, continua a ser bom relembrar - como um Amor de Verão. Faço-o com um sorriso. Não sinto saudades, mas recordo com o merecido respeito. Obrigada pelo que tivemos. Espero que me recordes da mesma maneira. Quando acordares do nosso sonho, não te esqueças, acabou. Sê feliz.


13 comentários:

  1. Tão bom de ler! Grande beijinho

    odesempregodeunisto.blogs.sapo.pt

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  2. Aprender com o que aconteceu (ou não aconteceu), com o correu mal e bem, retirar disso coisas positivas e aprendizagens, chama-se maturidade e crescimento. Para mim esta é a parte que custa. Não é o acabar. É o refazer de um dia a dia em que o outro já não existe. É o refazer-me, procurando "guardar só o que é bom de guardar".

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    1. Tentar entender o rumo que a vida nos faz tomar e tentar esquecer a mágoa... Não é fácil, mas é possível.

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    2. Relembrar as coisas menos boas da relação sim! Sem ser de um modo negativo, mas mais de um modo tipo "livrei-me de boa!"

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    3. Claro que tb acontece. Mas depende das circunstâncias em que acaba. E chega a uma altura - mesmo com tudo de negativo - e nem sequer queremos voltar a ve-lo que conseguimos rebuscar coisas boas. Outras em que ficamos simplesmente no arrependimento e sim o "livrei-me de boa" é bastante adequado. ;)

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  3. Força e Coragem. Tudo contribui para a nossa experiencia até que um dia deixemos de existir. Até lá: VIVER! AMAR!PRODUZIR/EVOLUIR! - “The time is now, the place is here. Stay in the present. You can do nothing to change the past, and the future will never come exactly as you plan or hope for.” - Dan Millman

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  4. Deve ser muito bom conseguir falar assim :) Com uma visão tão límpida e coerente. Eu usualmente (e infelizmente) sou o contrário, um turbilhão de confusões e de dilemas...Um dia pode ser que me perceba. Bjinho

    http://beinbetween.blogspot.pt/

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  5. A expressão que sempre ouvia e confesso que achava que estava a luz de perceber: a maturidade de aceitar e tomar determinadas decisões. Quando passares para a fase da bonança, também vais ver tudo limpo e claro.

    Já visitei.

    Beijinho ;)

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  6. Meus Deus! Eu podia ter escrito isto. Acabou ontem uma relação de 3 meses, de verão e foi tão isto que se passou que até fico arrepiada. Espero que a vida nos sorria!

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  7. O fim tem de ser encarado como um novo inicio...gostei.

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  8. A minha tb terminou este mês de dezembro. durou 6 meses e apesar de ter muitas saudades dele aos 35 anos temos de pensar e repensar se é "aquilo" que queremos para o resto da vida.

    Sobre o teu texto fizeste me lembrar uma frase que ouvi no filme "Libre et Assoupi" "o melhor do amor é subirmos as escadas."

    Beijinhos e que o 2015 seja mais rico para nós.

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