quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Queres jantar?

Descobri há uns dias que nunca tinha convidado alguém para jantar. Não me refiro a amigas, nem amigos. Tão pouco à família. Mas a alguém que despertasse em mim um interesse especial, uma vontade de conhecer melhor. Não me estou a pavonear de tal feito. Simplesmente percebi que estou mal habituada.

Não sabia sequer como estruturar a frase. Apaguei vezes sem conta. E até perguntei a uma amiga: como se convida alguém para jantar?! E ela respondeu: Simples! Queres jantar? A simplicidade da escrita complicava ainda mais o meu primeiro convite. E a extrema dificuldade em ultrapassar essa barreira deixava-me um nervoso miudinho no estômago e a mão trémula. 

A minha habitual descontracção e positivismo para com a vida, desaparecera perante uma trivialidade para alguns, uma completa novidade para mim. 

A cada tentativa de escrever a frase certa, pensava na possível resposta negativa e isso fazia-me recuar. Depois, relembraram-me de que eu já as dera também e que ninguém morreu por isso. Faz parte.

E esta curiosidade fez-me pensar, para variar.

Pior, percebi que não foi só este convite que não fiz. Nunca fiz convites simplesmente. Nem para um café, nem para um cinema, nem para a praia, nem nas redes sociais, nada! Estou preocupada. Provavelmente sou um bicho em cativeiro com a mania que sou social. Pensei melhor. Sabem, não precisei. Não precisei de conquistar. Aliás, também percebi, que não sei conquistar. Sei lidar com a conquista, geri-la. Conquistar, não sei. Espero que hajam livros de cursos intensivos: como conquistar em 10 dias. Sei lá, secalhar há! 

E por vezes a mão cheia de nada na altura do convite, até se pode transformar numa mão cheia de muito. Mesmo que não seja no que se esperava inicialmente. 

Não ando ao sabor dos desejos e convites - dos outros -, simplesmente nunca senti vontade e/ou necessidade. E sentia orgulho de não ter corrido atrás de ninguém - na fase da sedução, claro. Que palermice. Ou não. Fui conquistada pelas pessoas que tropeçaram na minha vida.

Será a minha vez de tropeçar na vida de alguém? 

Se se tratasse de um filme, veríamos a reacção dos vários personagens, sendo um filme da vida real, temos de aprender a lidar com os acontecimentos, com o bom e o mau que poderá resultar da pergunta. 

Quantas oportunidades se perdem na vida, pelo arrastar e rasurar - pelos mais variados receios - de uma simples frase?

Inspira, expira... Queres jantar hoje? 

13 comentários:

  1. Adorei o teu texto, senti-me "seduzida" pelas tuas palavras! Por isso, sim, sabes conquistar!
    Também não sou nenhuma expert nisso das conquistas, gostava de o ser. Mas comigo vive o sentido de "ou estou, ou não estou". Parva, por isso, sim sou!
    Fizeste-me reviver a fase de encanto de uma relação, a fase de conquista, a fase linda que um casal vive antes de iniciar a relação efectiva. A conquista deve ser feita durante toda a relação, sim é certo, mas a conquista inicial, essa é que mais sabor tem, pelos medos, pelos receios, por todo o encantamento principalmente!
    Deixa-te levar pela magia, e tudo corre pelo melhor!

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  2. Não adiar um convite…
    Não adiar um gesto que seja bom. Não parar na dificuldade, no receio ou no medo - naquilo que é o nosso coração a ditar, e que nos atemoriza. Não pôr nada de decisivo dentro de nós, à espera tempo demais. É que por vezes as oportunidades não esperam mesmo.
    Não adies ‘o viver’ o melhor que puderes...

    Não demores nenhum dos lados da vida, porque a vida esgota-se e – dizem - só Deus sabe o que virá depois, e se...
    Dá valor ao que o teu coração manda, decerto será um bom prenúncio para tudo correr pelo melhor.

    E por tudo e por tanto, não adies mais, e aproveita! A simplicidade da interrogação ditará o resto. Porque quanto mais simples - melhor!

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  3. Ao ler o teu texto começo a pensar que podíamos formar um clube. É que pelo que constato, muitas de nós nunca tivemos mesmo que fazer muito, para ter o resto...O pior é quando o revesso da medalha nos lixa e por medo, deixamos fugir as oportunidades.
    Como diz o PeterPan, talvez seja mesmo melhor começar a não adiar mais.
    Adorei!

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  4. Adorei o post! Eu também nunca convidei ninguém pela qual me estivesse a interessar verdadeiramente.
    É que devemos ser mesmo muitas por ai que "padecemos" do mesmo.
    Peterpan que belo incentivo. Realmente os rapazes são muito mais simples que nós.

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  5. Ora bolas, depois de escrever nao consegui submeter :(

    Como tinha escrito e como disse o Peter, nao deixes fugir as oportunidades e pergunta , porque de uma maneira ou de outra

    saberás a resposta ( boa ou má terás uma resposta ).
    Seja a parte do nevorso de escreveres a mensagem e apagares, de voltares a escrever a mensagem e apagas o telemovel ( mas

    a mensagem la continua ) , de o dedo ir para cima do enviar a mensagem mas ele nao carregar ou quando ele finalmente

    carregas e pensas " será que fiz bem ? ".

    A pouco tempo revi-me numa situação parecida com uma amiga minha que estudamos juntos.
    Já nao nos via-mos a cerca de 6 anos , onde como trabalhavamos na gare, iamos as vezes beber café ao final do dia , o qual

    acabou um pouco friamente ( provalmente pelo que nao fiz - convem dizer que por vezes os homens nao são inteligentes ).

    Instalei o whatsapp pela primeira vez (junho) e ao ver a lista de contactos, lá estava a minha amiga. Entre enviar uma

    mensagem ou nao enviar, meio dia passado mas la saiu um " ola, como estás " e " ja nao te vejo a algum tempo " que correu

    bem . 2 dias passados e um pergunto " e queres ir um dia beber um café? " surge um sim como vários pontos de exclamação .

    Falar um pouco, colocar a conversa em dia, saber como estava. Porque nem sempre os convites são para uma saida.

    Apesar de haver feriados ( junho ou julho ) , combinamos um café para depois já que estava de férias. Passado esse tempo

    surge um " tenho trabalho que vim de férias " e um " logo combinamos ".

    Bem, passado quase um mes , nem mensagem de whatsapp nem sms.
    Passado poucos dias, perguntei-lher por mensagem se estava boa, se estava tudo bem e o bom do whatsapp é que refere se a

    mensagem foi recebida mas nem uma resposta dada.

    Por isso, nao percas a oportunidade de convidar para um jantar, para um café, para perguntar se a outra pessoa está boa

    pois nao a vez a algum tempo, seja do que for . Mas se existem duas faces da moeda ( e porque ja estive dos 2 lados e ai

    percebemos verdadeiramente ), nao custa nada responder ás mensagens de quem nos fala pois a outra pessoa tambem se

    importou para falar connosco .

    Para mim se ha duas coisas que mais custam que um "não" ou um "obrigado mas tenho pouco tempo e a minha cara metade.. "

    ( ser um pouco directo(a) ) é a indecisão do que podia ter feito e o silencio do outro lado. Deixa o dedo carregar no

    botão da sms e deixa-te levar ( muitas vezes nao ha uma segunda oportunidade ).

    Se realmente a quem convidas estiver interessado num jantar ou café contigo, tempo arranja-se sempre quando se quer.

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  6. Muito curioso este texto. Na perspetiva masculina, quase inversa. As vezes que tive de inspirar e expirar. E nunca fica mais fácil, ou totalmente fácil Nunca. E do outro lado afinal... (tem sido mais fácil).

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  7. Ao ler o teu texto, lembrei-me das imortais palavras do nosso amigo e poeta Bocage:

    Aflito coração, que o teu tormento,
    Que os teus desejos tácito devoras,
    E ao doce objeto, ás perfeições adoras,
    Só te vás explicar co(m) pensamento.

    Infeliz coração, recobra alento,
    Seca as inúteis lágrimas, que choras;
    Tu cevas o teu mal, porque demoras
    Os vôos ao ditoso atrevimento.

    Inflama surdos ais, que o medo esfria;
    Um bem tão suspirado, e tão subido,
    Como se há de ganhar sem ousadia?

    Ao vencedor afoute-se o vencido;
    Longe o respeito, longe a cobardia;
    Morres de fraco? Morres de atrevido.

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  8. Como tem sido bom conhecer este blog :) perceber que apesar de ter 31anos e estar à beira de um divorcio os receios e afins são os mesmos...estou a adorar descobrir o que todos têm para dizer

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  9. Cheguei com atraso ao post mas não ao pensamento!! É que isto tem tudo a ver!! Tem tudo a ver comigo!! Por que razão é que somos tantas assim?! Raios parta as duvidas e os medos...somos o 'elo' mais fraco mas tão mais forte nestas situações!! A simplicidade das palavras é sem duvidada vencedora nestas coisas. Peterpan a luz segue-te para onde quer que 'vás'!

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  10. Ando a ler o teu blog e...gosto, identifico-me :) neste tive mesmo que comentar, tb sofro do sindrome de "não fazer convites" :P

    http://beinbetween.blogspot.pt/

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  11. Sou solteira aos 40. Descobri teu blog e este foi o primeiro titulo que resolvi ler porque me identifiquei.
    Quando penso em convidar alguém para o que quer que seja acabo por desistir com receio da nega ou de decepcionar. Dou comigo sendo anti social encerrada em casa com receio de ser rejeitada.

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  12. Porque será que temos tanto medo da rejeição?

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