segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Não era só um jardim

Jardim, o nosso jardim.

O espaço que um dia tinha sido vigoroso, resplandecente, sinónimo de dias felizes, estava pouco apetecível. 

Cortava-me o coração ver aquelas mesas de madeira ressequidas, lascadas, partidas, aquelas que outrora foram testemunhos de reuniões familiares, de confraternizações e comemorações tão variadas. Os pés partidos e modestamente apoiados em barrotes retirados da pilha de lenha. As plantas, que cresceram sem rumo, sobreviveram graças à rega que pingava a conta gotas, também ali, abandonada à sua mercê, por falta da inspiração e motivação. O adiar constante da restauração não daquele canto, mas de um espaço que reflete os corações estilhaçados pelos desgostos acumulados e desilusões dos que lá habitam. No fundo, tentar reabilitar de alguma forma os descrentes de um amanhã reluzente.

Dei uma nova vida às mesas e cadeiras que dificilmente resistiriam a mais um Inverno, aos vasos partidos, outros abandonados empilhados, ainda com vestígios de terra de Primaveras áureas. Aproveitei o tampo, que o resto desmoronou mal arredei como que num ultimo suspiro, aquele que apesar dos maus tratos e abandono resistiu, com a mesma força com que resistia ás travessuras de outros tempos. Comprei umas vigas e muito arcaicamente construí umas novas pernas, as bases que precisava para trazer uma luz a quem se esquecia de se lembrar de propósito. Foram horas a lixar, dias a medir, cortar, montar e pintar, a procurar inspiração, contrariando toda a inércia que se apoderava de um corpo cansado e de uma mente à beira de um colapso, mas que se esforçava para se manter lúcida e ter o discernimento necessário. 

Reanimei aqueles metros quadrados de nostalgia de um passado afortunado, não sei quanto tempo foi ao certo. Perdi-me na imensidão da recuperação que me propus fazer. Obrigada à mãe Natureza por me revitalizar e me manter Sã.

Chamo-lhe o pequeno jardim aromático, onde agora se recorda, noutros tons: branco, numa tentativa de paz e serenidade interior, o verde, a esperança de um futuro prospero trazida pelas plantas que agora moram nos vasos de texturas variadas, do mesmo tom da mesa de madeira. 

Não era só um pedaço de jardim, mas os nossos sonhos roubados antes de amadurecerem.

É o nosso jardim novamente semeado, sequioso de vida, da vida privada pelas suas leis.  

2 comentários:

  1. ...eu também já me habituei a ir sozinho ao cinema... já há muitos anos! Mas cada vez me custa mais olhar e ver-me ali... sozinho...

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    1. Engraçado. Eu adoro ir ao cinema sozinha. Até porque não costumo conversar durante o filme. Não consigo sentir-me sozinha numa sala de cinema.

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