quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Estranho modo de vida...

Tantas são as vezes que dou por mim a divagar em assuntos que não sei como intitular. Outras vezes, há temas tão simples, que não me apetece chamar-lhe pelo nome próprio. Penso muitas vezes que tenho um estranho modo de vida. Mas ainda assim, não consigo ser diferente. Defendo os meus ideais com todas as forças. E há uma palavra que não consigo compreender: a infidelidade.

Recordo-me de haver alturas para tudo. 

Os morangos, as cerejas, a melancia, a meloa e o melão recebiam o Verão. As laranjas prevenirem as doenças de Inverno. As castanhas em meados de Outubro e Novembro, significava que o São Martinho estava para breve. Só havia bolo Rei à venda pouco antes do Natal até ao dia de Reis. E tudo tinha outro sabor. Agora, comemos tudo quando nos apetece, sempre que nos apetece. E isso, faz com que não tenhamos de esperar pela a sua época. Bem ou mal-ditas estufas. Evoluções e modernices.

Assim são as relações modernas: despidas de preconceitos. Sem esperas. Longe das expectativas de outros tempos. Conhecem-se primeiro os sinais cravados pelo corpo, antes dos sinais da alma. Damos - literalmente - o corpo as tentações antes de dar o coração. 

E se a liberdade é tão grande, porquê trair? 

Nunca traí, mas já fui traída. Agora à distância - uma mão cheia de anos - tento ver com maior clareza. Recordo-me da revolta e da bagunça emocional. Sentimentos que até tento compreender que se perdoe quando se tem um casamento e filhos. Que se tente dar uma segunda oportunidade. Se entenda como um deslize. Mas quando não se tem nada disso, nem contas em comum - laços - não há sentimento que resista à desilusão. Não perdoo nem a traição de um amigo, muito menos de um Amor. Mas o que era mesmo difícil de perceber era o porquê?! Porque não me tinha contado, alertado e tratávamos de tudo a bem, com uma declaração amigável - como quando batemos sem querer no carro de alguém. Podemos desgostar - é legitimo. Errado é, quando damos o outro como seguro - contra todos os riscos! E achamos que podemos tudo - até actos de vandalismo (emocional).

Pior, é que vislumbramos sempre - a outra - como uma super mulher, com poderes desconhecidos e ainda ficamos a perceber menos quando vemos a imagem. Sim, porque mulher que é mulher, não descansa enquanto não sabe como a dita é fisicamente - com os homens é igual. Antes fosse um mulherão daqueles de parar o trânsito, um poço de cultura e bem falante - daria o braço a torcer. Como raramente isso acontece, pergunto se valem a pena: os riscos, a adrenalina, as emoções à flor da pele e o desassossego? As mentiras e os jogos? E o esforço físico? - ah valentes! E o arrependimento? E mais - tanto! - a perda de confiança da legitima? E a perda total? - sem indemnização por parte da seguradora. 

Evitem magoar e descredibilizar quem vos ama. Sejam honestos. Teria em grande estima, consideração e nutriria um profundo respeito por quem fosse sincero, mesmo que me devastasse emocionalmente. 

E um dia, quando nos cruzássemos,  pensaria: despedaçou-me, mas foi um grande Homem. 

Não digo "nunca farei" porque já o disse noutras circunstancias e mordi a língua. Mas é das poucos coisas que arriscava a cuspir para o ar, e sem falsos moralismos, dificilmente me cairia em cima. 

Contudo, se tiver uma aventura, ao menos que valha a pena - já dizia o grande.

6 comentários:

  1. Brilhante Amorinha! Tal qual como te conheço: what you see is what you get. Não é só a banalização das coisas, é a desresponsabilidade e a cobardia. Não, já não há "palavra de honra", já não há gente cuja a palavra seja a conduta de probidade. Já não se dá a cara para absorver o impacto do mal que fizemos aos outros. Já não há heróis. Este mundo espanta-me. E como eu sempre digo, todos os males deste mundo estão diretamente ligados aos standards de educação. A nossa sociedade contemporânea, esta em que vivemos hoje, é uma sociedade feita de pais que desculpam tudo nos filhos, que os amparam em todas as quedas e não os deixam viver uma vida calejada. Os garotos já não se fazem Homens, porque hoje os pais esquecem-se de lhes contar as histórias épicas, de gente corajosa, que no fim de contas trazia sempre uma moral, um ensinamento. Há tecnologia a mais, redes sociais a mais, televisão a mais, ambiguidade a mais! Hoje, como outros grandes também diziam "Basta pô-los em frente à televisão" e eles crescem sem se ver. Já não há cartilhas de educação e bons costumes. Eu acho que tocas na ferida, mas que o problema é de fundo, de bases ou estrutural, como queiras chamar... vem lá de trás, do inicio. É só uma opinião, igual ou divergente, mas tão válida quanto todas as outras.

    Beijo Amorinha ;)

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  2. Porquê o falso moralismo do sexo oposto? O afecto não escolhe géneros nem costuma ter aviso prévio, é um facto! Já o bolo rei, é uma pena efectivamente!

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  3. Que blog de giro!!! Adorei adorei adorei o seu testemunho, a sinceridade! Vou acompanhar sem dúvida!

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  4. Olá Amorinha..

    Sempre que leio os teus textos parece que me lês o pensamento. Acho mesmo que lês o pensamento de muitas mulheres e homens que te seguem por aqui.

    Quando li: "Teria em grande estima, consideração e nutriria um profundo respeito por quem fosse sincero, mesmo que me devastasse emocionalmente. E um dia, quando nos cruzássemos, pensaria: despedaçou-me, mas foi um grande Homem."

    Posso assegurar-te que isso é tão (ou mais) difícil do que perdoar. É colocar os nossos sentimentos, o nosso amor próprio e auto-estima à frente de tudo. Da estabilidade, do carinho, do amor do outro.

    No meu caso fui "avisada" pouco depois. Com a sinceridade e honestidade que sempre o caracterizaram. Não quis saber o nome nem como foi. O turbilhão de sentimentos era imenso.

    Quando me cruzei com ele na rua senti um arrepio na espinha como se perdesse a força. E foi no momento em que me fez questão de dizer o nome dela que que percebi que estava na hora do meu coração colocar um ponto final nesta história.

    Para o meu coração ele tinha sido verdadeiro. Para a minha razão eu merecia mais!

    Por isso demorou a virar a página. Talvez também seja por isso que durante algum tempo me fechei para o amor.

    Não posso dizer nunca. Mas sei o que é estar do outro lado. E quando a "tentação" estiver lá, vou lembrar-me que doeu e tentar não fazê-lo.

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  5. Eu nem entendo que se tente perdoar quando ha filhos. Um deslize? Se alguem tem de perdoar em nome de filhos e da familia, então alguém deveria ter tido respeito pelos filhos e pela familia. Perdoar uma traiçao é o principio de um murro em nós cada dia.

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