quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Abordagens #2

Adoro os fins de dia na praia, deitar-me de barriga para baixo e moldar o corpo na areia. Fechar os olhos. Ouvir o barulho da rebentação da agua e as vozes ao longe num zumbido característico de Verão. Gosto do Sol quente a bater nas costas depois de um mergulho.

E foi num destes maravilhosos dias em que não tinha horas para regressar, que os ares algarvios me surpreenderam.

Estava esponjada no deslumbrante areal, numa das praias a Sul em que em pleno Agosto, não há problema em estender a toalha. Onde não se avista o início nem o fim da praia, num cenário esplêndido e revigorante. Levantei a cabeça - não sei bem porquê - e lá vinha ele. Encandeada não vislumbrei bem, só vi a volumetria e percebi que era alto. Mas a figura prendeu-me a atenção. Discreta, como tento sempre ser, mas nada indiferente ao que via, mudei de posição - na verdade era mais fácil de espreitar pelo canto do olho – e ele estaciona três metros ao lado. O Deus grego era, agora, oficialmente meu vizinho. 

Estendeu a toalha e pousou a mochila. Ao contrário de mim, optou pela atividade ar livre. A inquietação e a dedicação ao yoga, causaram um misto de sensações: estranheza, porque raros são os homens que praticam - que eu conheça - e admiração por fazê-lo sem qualquer receio de censura, por gosto diria. Pelo físico, é adepto de desporto. Que chatice! 

Algum tempo depois, senti que os três metros estavam a encurtar, o Deus grego, vinha mesmo na minha direção. Chegou perto de mim, baixou-se. Num português mal falado, com uns olhos azuis penetrantes, com a tonalidade reforçada pelo azul do mar e a incidência do Sol, a pele dourada natural no fim do Verão e com uns dentes tão brancos que mais pareciam fazer publicidade a um dentífrico qualquer, perguntou-me: Não queres vir correr? Epá, não podia perguntar se queria ir beber uma água ou comer um gelado? Agora, correr?! Bolas! Sou a rainha da preguiça. E estava num fim-de-semana de descanso. E acho que tropeçava mal me levantasse. Respondi meio atrapalhada: Não, correr não. Obrigada! E ele respondeu - muito rapidamente: vais ficar ai deitada o resto da tarde? E eu pensei: sim, claro, era esse o plano. Leu-me claramente o pensamento, sorriu timidamente e antes que eu respondesse, o Deus grego disse: eu vou, já volto. Voltou, para a toalha! Durante o tempo da caminhada, pensava no que fazer para retribuir o convite... E tanto pensei, que nada fiz.

Poucos mais já eram os resistentes do final do dia. Preparei-me para ir embora, na esperança de uma nova abordagem mas não fomos além da troca de olhares e sorrisos envergonhados. Acenei em gesto de despedida e ele retribuiu com um enorme sorriso. Enquanto andava, olhei para trás, três ou quatro vezes e ele lá estava, fiel, com o olhar direcionado. Arrependi-me de nada ter feito. Ainda pensei voltar no dia seguinte ao mesmo sítio, à mesma hora, mas imaginei que a probabilidade de um déjà-vu, era ínfima. 

Foi um encontro fugaz, mas memorável.

E agora penso: que um simples convite para uma bebida no bar da praia ou um bilhetinho com o número, tinha preenchido a página de um dia, daquele simples dia. Que provavelmente só foi simples, porque as dúvidas inquietantes e uma vez mais o receio pelo desconhecido, falaram mais alto. Ou o destino, como prefiro acreditar.

8 comentários:

  1. Talvez o rapaz tenha visto em ti uma atleta e pensou que, nada melhor para uma atleta que dar uma corridinha :)

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    1. De certeza... ou pensou: "está mesmo a precisar de umas corridinhas" :) :)

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  2. Praias do sotavento algarvio..?? Com certeza..

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  3. Do que vou lendo, parece-me que tens receios e não dás a oportunidade a ninguém para entrar na tua vida. Porque não dás uma hipotese? Porque não experimentas tomar um café com um desconhecido? Eu adoro! Aliás, é das coisas que mais me define. Todos me chamam louca porque eu vou com todos para todo o lado. Em 2009 fui para um congresso em Espanha, era a única portuguesa e fiz amizade com um moço de Benidorm. Agora em 2013, após trocarmos mails todos estes anos, apanhei um avião e fui 17 dias para casa dele. E destes episodios tenho muitos!

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  4. Esses "blind dates" não me convencem muito... Tenho de pensar melhor no assunto lol

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    1. A mim saem-me naturalmente porque adoro conhecer pessoas, nunca penso que sejam "dates", não há pressões. Para mim são sempre amizades e experiencias giras. Nunca me envolvi nem tive sentimentos por pessoas que conheci assim. Consegui foi imensas amizades curiosas e divertidas.

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